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Arquitetos: Coletivo LEVANTE
- Área: 194 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Leonardo Finotti, Fernando Maculan, Bruna Brandão, Matheus Angel
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Fabricantes: Construtora UNI, Depósito Areia Branca, Interpam Iluminação, Luxion, O/M Light - Osvaldo Matos, Omega Light, Sherwin-Williams, Solpack, Templuz, Tramatto Elementos Vazados, Trust iluminação
Descrição enviada pela equipe de projeto. A edificação ocupa integralmente o terreno de 78,20m² na vila conhecida como Favelinha (Aglomerado da Serra, Belo Horizonte) e totaliza, em três níveis, 194,73m² de área coberta. A construção existente foi iniciada em 1995, embora nunca tivesse sido totalmente concluída até 2017, quando o projeto/coletivo LEVANTE Favelinha foi iniciado.
A intervenção arquitetônica foi realizada ao longo de aproximadamente 3 anos em um processo coletivo que envolveu a comunidade Lá da Favelinha, os profissionais e estudantes do LEVANTE, designers, costureiras, empresas de engenharia, pedreiros, serventes, serralheiros, vidraceiros e pintores do Aglomerado da Serra. O trabalho do LEVANTE é voluntário e 100% dos recursos arrecadados via vaquinha virtual foram destinados à execução das obras.
O imóvel tem três níveis, embora anteriormente à reforma apenas dois deles estivessem em uso, com o terraço, ainda inacabado, servindo de depósito de materiais diversos à espera da conclusão da obra. Nesse momento, surge a ideia do LEVANTE Favelinha – união de arquitetos, estudantes e engenheiros, liderados por Fernando Maculan e Joana Magalhães, para elaborar projetos, trazer fornecedores e apoiadores para a transformação da obra em curso.
A intervenção trouxe algumas supressões e correções espaciais, de modo a organizar melhor os espaços vazios, mais abertos à livre apropriação (térreo e terraço), e aqueles mais compartimentados e com usos definidos (segundo piso). O projeto também promove a circulação de ar e entrada de luz natural em todos os espaços, adotando elementos vazados e aproveitando aberturas para o fosso-fenda entre as duas paredes na divisa de fundos, por aonde chega uma luz indireta surpreendente. Faixas vermelhas de tela agrária - elementos marcantes da fachada e cobertura – amenizam a insolação direta, afirmam a presença do centro cultural na comunidade e estabelecem um limite sutil entre os espaços internos e a paisagem.
Como partido conceitual, o projeto deveria refletir e reafirmar a alegria, a vibração e a potência criativa das pessoas que vivem o centro cultural, o que acabou se materializando nas cores adotadas nos espaços internos e na vestimenta da construção.
Não à toa, os elementos que compõem a fachada e a cobertura são têxteis, costuradas pela equipe do REMEXE (projeto de moda e upcycling da Favelinha), e os espaços internos são pensados como corpos de cor (salve Hélio Oiticica!) - arquitetura cênica para a exaltação dos bailarinos, modelos, empreendedores e artistas que encontram na Favelinha uma ponte para o mundo.
Além do brise/pergolado de tela agrária, executado pelo ateliê REMEXE, o projeto abriu frentes específicas como o mobiliário (open source) de formas de compensado resinado com corte CNC pela Fábrica Jangada, o mural com a comunidade Lá da Favelinha por Bruno Ulhoa e o parklet elaborado com o coletivo Micrópolis com a participação de crianças e jovens da favela. Este projeto inaugura, para o grupo de arquitetos envolvidos, uma forma mais íntima de estar e de atuar na favela, e que já se desdobra em uma série de outros projetos no aglomerado, com distintas escalas e naturezas, ganhando lugar vital em nossa prática e papel social.